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Mestrando na área de saúde, acompanha a Formula 1 desde o início da década de 1990. Entusiasta no cuidado automotivo, leitor e colecionador de revistas especializadas e livros sobre Ayrton Senna.

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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

OS PRIMEIROS TESTES DE SENNA NA F1 (1983) E O ACERTO PARA 1984

“Ayrton Senna foi tão bem no teste com um Formula 1, na Inglaterra, que ninguém duvida: ele será o próximo brasileiro na categoria, e com condições de exigir um bom contrato”. Revista Quatro Rodas, agosto/1983.
 
 
Senna em seus primeiros testes com carros de F1. Williams, McLaren e Toleman
 
19 de julho de 1983. Donington, Inglaterra. “É hoje!”. Disse Senna ao chegar aos boxes da Williams para seu primeiro teste na Formula 1, dando um tapinha no aerofólio. E foi mesmo. Senna pilotou o Williams-Ford/Cosworth FW08C 3.0 V8 aspirado (premiação concedida ao campeão da F3 inglesa) reserva de Keke Rosberg para o GP da Inglaterra, realizado dois dias antes, e com 20 cavalos a menos que o bólido principal, além de guiar com 75 litros a mais que o necessário, por solicitação de Williams, temendo pela integridade do piloto e do carro, além dos pneus de corridas usados, em vez de pneus de classificação, mais velozes. O banco também estava ajustado para as dimensões do finlandês. A partir da terceira volta, Senna bateu o tempo de Jonathan Palmer, piloto de testes da equipe e também da F2 Europeia, baixando em um segundo a melhor marca da pista.
 
Comentário de Frank Williams após Senna bater o recorde da pista de Donington para motores aspirados (1:00:05): “Fantástico!”. Frank havia preparado um plano de adaptação para Ayrton, mas não foi necessário, sua adaptação foi imediata. Senna já despertava a atenção da mídia brasileira, que transmitiu provas da F3 e acompanhou os testes na F1, com a presença de Reginaldo Leme.
 
Senna testando a Williams-Cosworth de 1983
Foto: Revista Quatro Rodas, Ano XXIII. Nº277. Pg. 151. Editora Abril. Agosto-1983.
 
Após o teste, Frank disse a Ayrton: “Não assine com ninguém antes de falar comigo”. Mas Williams já tinha outros pilotos sob contrato. Posteriormente, o britânico afirmou que foi bom para Senna não ter sido contratado naquele período, já que o carro do ano seguinte revelou-se bem problemático (apesar de uma vitória e um segundo lugar de Rosberg), com várias retiradas.
 
 25 de outubro de 1983. Silverstone, Inglaterra. Ao testar a McLaren-Ford/Cosworth MP4/1C (Mrlbr Project Four) 3.0 V8 aspirado (primeiro carro a utilizar fibra de carbono em seu monocoque), em Silverstone (juntamente com Martin Brundle e Stefan Belof, superando ambos), Senna afirma ter se sentido bastante confortável ao guiar o carro, obtendo resultados melhores do que esperava e observando a importância que um carro rápido e bem acertado tem para o bom desempenho do piloto. O que Ron Dennis se propôs a oferecer a Senna foi a posição de piloto de testes, mas sem perspectivas de assumir um dos postos, (algo semelhante ao que Frank Williams propunha) visto que contava com Alain Prost e o então bicampeão Niki Lauda. Senna declinou.
 
 
McLaren-Ford, 1983
 
 09 de novembro de 1983. Silverstone, Inglaterra. No teste com a Toleman-Hart TG183B 415T 1.5 L4 Turbo, Senna experimentou pela primeira vez um motor com turbocompressor. Os Ford/Cosworth aspirados que testara possuíam cerca de 510cv, enquanto que o Hart turbo alcançava cerca de 600cv. Os motores turbo também possuíam uma peculiaridade denominada “turbo lag”. Consistia em uma reação retardada do motor ao se pressionar o acelerador, que respondia com algum atraso mas de forma abrupta, acarretando em uma pancada na nuca, devido ao forte empuxo. Chris Witty, homem de marketing da Toleman, lembra de como Senna descreveu de forma precisa a Rory Byrne, o projetista da equipe, como estava e como queria o ajuste do turbo. Byrne disse: “Senna é o cara. Ele é brilhante. Nós temos que contratá-lo”. Com a pista molhada, Ayrton marcou 1:12:04 com pneus de corrida, marca mais rápida que a de Derek Warwick, titular da equipe com pneus de classificação. À tarde, com alguns ajustes e pista mais seca, Senna marca uma volta de 1:11:05, que lhe conferiria a quinta colocação no GP daquele ano, à frente das Brabham-BMW.
 
Toleman-Hart de 1983
Foto: Flickr.com
 
14 de novembro de 1983. Paul Ricard, França. Senna testa a Brabham-BMW M12 1.5 L4 Turbo, um sofisticado projeto de Gordon Murray que deu o segundo título a Nelson Piquet. Um dos primeiros capítulos da rivalidade Senna vs Piquet. Bernie Ecclestone, almejava contratar o brasileiro, mas a Parmalat, principal patrocinadora, preferia ter um americano ao lado de Piquet, que também não queria o compatriota na equipe, alegando que nunca iriam se dar bem, por serem brasileiros (?!?). Bernie, a exemplo de outros proprietários de equipes, estava de olho na jovem promessa e disse que Senna era mais veloz que Piquet, e por isto ele não o queria na equipe. Piquet deu algumas voltas para ajustar o carro, em seguida colocou pneus novos e marcou 1:06:00, Senna e Mauro Baldi marcaram tempos próximos, com 1:06s acima de Piquet, Senna 0,1s acima de Baldi. Ayrton disse que foi o pior teste que fez, sentindo-se desconfortável com a Brabham. Reginaldo Leme, que acompanhou seu teste com a Williams, acredita que o carro estava um pouco diferente, com a interferência de Gordon Murray. Há várias versões sobre este teste, uma delas afirmando que Piquet vetou Senna, com testemunhos de Herbie Blash, diretor da equipe, Cris Witty, da Toleman, que participou das negociações e o próprio Senna.
 
 
Brabham-BMW, 1983
 
Senna disse que Williams e Brabham não ofereceram uma proposta tal como ele esperava. Bernie Ecclestone, tinha fama de não pagar grandes salários a seus pilotos. Senna, desde outras categorias, sabia o seu valor, e mesmo enquanto desconhecido, exigia bastante das escuderias. Um dos donos uma vez perguntou: “Quem diabos ele pensa que é?”. McLaren e Williams desejavam contratar Senna apenas para 1985, sem maiores garantias de que iriam ceder um assento ao piloto.
 
A Lotus, apesar de não ter oferecido o carro para Senna testar, também tinha interesse em formar uma dupla com Ayrton e Elio de Angelis. Mas, os patrocinadores ingleses pressionaram para Nigel Mansell ocupar seu lugar, e assim aconteceu.
 
Dick Bennett, chefe de equipe de sua escuderia na F3, também havia convidado Senna para disputar o campeonato europeu de F2.
 
Senna também ocupou o posto de piloto de testes da Pirelli, que fornecia pneus para Toleman, Osella, Spirit e ATS.
 
 
Senna e a Toleman em 1984
 
Como característica da época, notamos a insegurança na realização de testes, sem a presença evidente de equipes de resgate. Além da fragilidade do cockpit, fato evidenciado no ano seguinte em um acidente com a Toleman de Cecotto.
 
Ayrton queria o posto de piloto titular, oferecido apenas pela Toleman. Ele via a equipe incapaz de disputar com Ferrari, Renault e Brabham, mas com potencial de disputar o pódio, talvez já em 1984. Senna assina então um contrato de três anos com a Toleman, equipe média que entrava em seu quarto ano, assumindo o primeiro posto. Dentre as cláusulas, Senna exigiu que caso o carro não se apresentasse competitivo, rescindiria o contrato. Um carro mediano, mas, como veremos em breve, possibilitou a Ayrton mostrar a que veio.
 
Senna fala sobre seu contrato com a Toleman
 
Curiosidade: a Toleman foi comprada pela Benetton, que foi comprada pela Renault, hoje denominada Lotus.
 
 
Referências
 
HILTON, Christopher. Ayrton Senna: uma lenda a toda velocidade: uma jornada interativa. São Paulo, Ed. Global, 2009.
Revista Quatro Rodas Ano XXIV. Nº280. Pg. 186. Editora Abril. Novembro-1983.
Revista Quatro Rodas Ano XXIV. Nº283. Pg. 135. Editora Abril. Fevereiro-1984.
RODRIGUES, Ernesto. Ayrton: o herói revelado. Rio de Janeiro, Ed. Objetiva, 2009.
 
 

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